terça-feira, 12 de abril de 2011

Consciência coletiva pela qualidade de vida

Consciência coletiva pela qualidade de vida

por Lissi Bender Azambuja* 

De longe acompanho as mudanças que se operam em relação ao tratamento dispensado ao lixo em meu país. Ainda incipientes, considerando as necessidades que a questão demanda. Muitas reflexões e ações precisam ainda acontecer, antes de a nova lei entrar em vigor em 2014. Faz- se premente a construção de uma consciência mais responsável no que tange ao lixo que diariamente produzimos, para qualificar a vida em coletividade e para que as próximas gerações não tenham que viver sobre montanhas de lixo produzidas por nós.

Onde falta consciência, ela precisa ser construída. Existem muitas formas. Em minhas vivências aqui na Alemanha, eu percebo que ela é construída de diferentes maneiras. Educação ambiental precisa iniciar em casa desde cedo pelos pais, continuar por meio de projetos em escolas e, por extensão, envolver toda a sociedade. Quando aqui vou ao mercado ou à feira, vejo muitas pessoas levarem um cesto consigo. Sim, o velho e útil cesto de compras que costumávamos usar antes de as lojas nos ofertarem saco plástico para acomodarmos nossas compras. Aqui há muito tempo os mercados não mais oferecem gratuitamente saco plástico. Se você quer um, terá de pagar por ele no caixa junto com as compras. Sacolas de pano também fazem parte do cotidiano de muita gente. Quando as pessoas se dirigem ao mercado para fazer rancho, normalmente levam no porta-malas uma caixa para acomodar as compras e não existe a figura do empacotador ou alguém encarregado de levar as compras até o carro. A propósito, os carrinhos de mercado se encontram presos uns aos outros por correntes. Para dispor de um, você precisa inserir no carrinho uma moeda de um euro para soltá-lo da corrente, dinheiro que você recupera quando recoloca o carrinho em seu lugar e o prende novamente aos demais.

Também nas lojas em geral é comum se ouvir no caixa: “Brauchen Sie eine Tüte, oder geht es auch so?“ Isto é, se precisamos de uma sacola ou se ela é dispensável. Percebo que isto ajuda a construir consciência. Aos poucos as pessoas se acostumam a levar sua sacola, seu cesto, quando vão às compras. No Brasil tenho ouvido a alegação de que as sacolas de mercado servem para acomodar lixo. Aqui você paga embutido na taxa de coleta de lixo um valor para pagar o gelbe Sack - saco amarelo, que é entregue nos domicílios em rolos para nele se acomodar lixo seco e reciclável. Lixo orgânico, restos não re-aproveitáveis são separados em tonéis domiciliares identificados com um selo anual que comprova o pagamento da taxa referente ao recolhimento do lixo. Sem o selo, o lixo não é recolhido.

Percebo também que aqui se usam outras estratégias para construir consciência. Por exemplo, para cada embalagem de bebida que você compra (seja ela de vidro, de plástico ou de lata), você paga um valor a mais na compra, uma penhora que varia, mas pode chegar a 25 centavos de euro. Dinheiro que você recebe de volta quando devolve a embalagem ao mercado. Aliás, esta seria uma boa medida para pessoas inconscientes pararem de jogar lixo em qualquer lugar e com ele entupirem bueiros que provocam inundações em períodos de chuva. Outro exemplo eu vivencio diante das máquinas automáticas de café e chá na universidade. Se eu trago meu próprio recipiente, eu economizo 20 centavos, valor que me é cobrado quando uso o copo descartável fornecido pela máquina. Mais um exemplo? Em grandes festas públicas é comum as bebidas serem oferecidas em recipientes adequados. Assim, eu tomo chocolate quente em xícara, vinho em cálice, cerveja em copo apropriado ao tipo de cerveja que solicitei. Mas, para cada uma desses recipientes, eu pago na hora da compra da bebida uma penhora, correspondente ao seu valor, que varia entre 1 e 3 ou 4 euros. Este valor eu recebo de volta quando o devolvo.

Existem muitas outras formas para se construir consciência coletiva, com o intuito de reduzir a produção e de fomentar um tratamento responsável para com o lixo produzido, e dessa forma melhorarmos nossa qualidade de vida e garantirmos vida com qualidade também para as próximas gerações. Isto é da responsabilidade de cada um de nós. Bem a propósito, lembro aqui de palavras da chefe de governo alemã Angela Merkel em sua palestra aqui em Tübingen, à qual eu pude assistir ao vivo; ela dizia que a atual situação da Alemanha também se deve às gerações passadas e assim, a atual geração tem compromisso de fazer sua parte pela infra-estrutura do futuro. Vamos fazer a nossa parte, então, por uma vida com mais qualidade para nós e para os que virão depois de nós em nosso País.

*Lissi Bender Azambuja é docente na Unisc - Universidade de Santa Cruz do Sul, RS, doutoranda na Universidade de Tübingen, Alemanha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário